quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

factótum 1975

Eu achava bacana que houvesse tantas vagas de trabalho, embora isso também me preocupasse - provavelmente seríamos lançados uns contra os outros de alguma maneira. A lei do mais forte. Sempre havia homens à procura de empregos na América, sempre essa oferta de corpos exploráveis. E eu queria ser um escritor. Quase todos eram escritores. Nem todos acreditavam que podiam ser dentistas ou mecânicos de automóvel, mas todos tinham a impressão de que podiam ser escritores. Daqueles cinquenta caras ali na sala, provavelmente quinze consideravam-se escritores. Quase todos usavam palavras e sabiam escrevê-las, isto é, quase todos podiam ser escritores. Mas a grande maioria dos homens, afortunadamente, não é composta de escritores, ou mesmo de taxistas, e alguns homens - muitos homens - , infelizmente, não são nada.

(Charles Bukowski)

Para meu infortúnio, a leitura do On the Road, Jack Kerouac, chegou às minhas vistas muito tardiamente. Ainda assim, o espírito do livro veio me incorporar, apesar de ter passado há tempos daquela época do deslumbre acadêmico libertário que esse livro tende a alcançar. Encarnada por esse espírito, e pelo cinismo de Natal, nesse dezembro de 2013 resolvi ler outro Kerouac, ainda que tantos já tenham me advertido que todos os outros livros do autor repetem o mesmo flow do On the Road. Besteira. Vagabundos Iluminados bem que tenta uma variação do mesmo, agregando um zen-budismo cachaceiro na coisa toda, que, no entanto, falha, engasga, e me deu sono.

Tudo isso pra dizer que Bukowski pode ser lido sem pudores, e com todos os pruridos dos 20 aos 115 anos. Sempre ali, pra te lembrar que a vida é bela, mas o seu belo rabo não é tão nobre assim.